“O prazer da comida é o único que, desfrutado com moderação, não acaba por cansar”

Brillat-Savarin


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Taberna – E Coimbra tem mais encanto... nesta mesa

No mundo em que vivemos, onde temos máquinas para fazer tudo, voltar à pré-história do lume e cozinhar em forno de lenha é... ousado!

Vamos lá a ver se nos entendemos: não tenho nada contra as máquinas. Que bom pão faço cá em casa! E é  óbvio que não me passa pela cabeça bater claras de ovos à mão. Nem me atrevo a fazer uma boa maionese caseira sem a angústia de ela deslaçar e, comigo, isso só é possível com a preciosa ajuda da bimby.

Mas se a bimby já começa a ser mais ou menos vulgar nas cozinhas domésticas, fico de cabeça perdida quando folheio um qualquer livro ou revista de receitas e, ditos grandes chefs, se dignam dar a indicação de cozer um lombo de garoupa ou qualquer outro peixinho no ronner.

É uma máquina que permite uma cozedura precisa e uniforme a baixas temperatura, mas cujo preço a remete quase exclusivamente para as cozinhas industriais; e mesmo assim, há muito bom restaurante que, ao fazer contas ao custo/uso, prescinde. Ora, esses “chefs” sabem bem que, com grande probabilidade, quem os lê não tem ronner nem nenhuma máquina de vácuo.

Mas esses ditos cozinheiros, provavelmente, sem um ronner, jamais serão capazes  de apresentar no prato um peixinho ou carne no ponto...E chego a ter dúvidas que muitos saibam fazer um molho holandês sem bimby! Muitos há, também, que mal sabem fazer um puré, mas aderiram à moda das espumas. E já não falo daqueles que confundem espumas com uma coisa quase liquida, a meio entre um creme e uma sopa!...

Não tenho nada contra as inovações; e, a par da informática e comunicações,  é na cozinha onde nota mais esse salto para o futuro. Certo! Mas entre o ar asséptico de um restaurante com um ronner que não desperta o olfacto e o aroma de um assado em forno de lenha à moda antiga que faz acordar todos os sentidos...não tenho dúvidas na opção.

Ora, imagine-se o que é entrar, a medo, numa pequena sala e descobrir um forno de lenha... que funciona mesmo! E que quem lida com tamanho “monstro pré-histórico”, tem arte e engenho para apurar o ponto do cozinhado...

Foi o que me aconteceu recentemente em Coimbra. Na companhia de uns amigos, todos fomos unânimes na recusa em almoçar no Arcadas, da Quinta das Lágrimas, tamanha tem sido a desilusão, já experimentada por todos, nos últimos tempos.

Na busca de alternativas, a escolha recaiu na mesa tradicional da Taberna. Apesar do nome, sala e serviço estão promovidos a uma dignidade muito acima de uma simples taberna.

O pão rústico, aquecido no forno de lenha, apresenta-se com o miolo fofo e a côdea estaladiça, rec-rec, a pedir-para-ser-devorado. Irresistível com o requeijão, as manteigas e o presunto que também vêm para a mesa. E eu fico com vontade de voltar apenas para comer pão quente com requeijão! Ai a balança que promete zanga certa!..

Ainda nos entreténs, o carapau em escabeche - garante quem provou - passou no exame. Com o estômago saciado em pão, passo as entradas, embora fique a vontade de provar os cogumelos selvagens com alho e salsa. Para a próxima, guardo espaço...

Polvo assado na brasa, Cabrito assado e posta Trás-os-Montes, tudo sem mácula, fizeram trilogia, com um rodízio de acompanhamentos que serve todos os pratos: batatas à lagareiro, ou simplesmente cozidas, grelos, salada de pimentos. No copo, um Quinta do Crasto, tinto, a prometer boa companhia.
Carta simples, que a simplicidade é aqui mandamento, com cozinha e forno de lenha à vista, a provar como uma boa mesa é aconchego de alma.


A Taberna
Rua dos Combatentes da Grande Guerra 86
3030-181 COIMBRA

Tlf. 239716265
www.restauranteataberna.com

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