“O prazer da comida é o único que, desfrutado com moderação, não acaba por cansar”

Brillat-Savarin


quarta-feira, 15 de junho de 2011

São Gião – Um equívoco



Por uma razão ou por outra, nunca consegui ir a Moreira de Cónegos. Sugeri a colegas, invejei relatos, mas... ano, após ano, vou-me poupar a pormenores, nunca consegui a ocasião para jantar nesta meca da gastronomia minhota!
Ora, o São Gião surgia-me como um daqueles lugares em que valia a pena palmilhar quilómetros para desafiar as papilas gustativas.
Um destes dias consegui!!! Finalmente!!! Reserva feita em dia marcado, rumo a Moreira de Cónegos.
Busco pelo restaurante, todos parecem saber onde é, embora nem sempre saibam assinalar o caminho! Certo. É um problema de português. Esquerda, direita, alguém me manda “cavalgar” uma estrada! Aceito, que os cavalos do meu carrito estão lá para isso.
Resumindo no GPS, o dito “fica à beira” do estádio do Moreirense. Ainda assim, sem nenhuma referência...uma casa amarela, incaracterística, diria, até, feia. Vencida a porta, uma ampla sala com vista para um vinhedo e o primeiro suspiro de alívio. Ora, bem! Olho para cada uma das mesas com o olhar de lince e a primeira impressão convence!
Consultada a carta, procuro escolhas que obriguem à intervenção da cozinha. Em vez de ser tentada pelo prato de presunto ou da alheira grelhada, opto por partilhar uns ovos mexidos com gambas, míscaros e espargos. Uma miscelânea – penso com os meus botões – que me deixa bem mais assustada quando fica ao alcance dos meus olhos. Um enorme prato que daria para dividir por quatro ou cinco ou, até, seis bons comensais.
Fico rendida à prova. Os ovos no ponto e, ainda que se dispensassem as gambas, o conjunto revela-se equilibrado. Registo e aplaudo a soma de uns croutons que não constam da descrição, mas introduzem um toque crocante bem acolhido.
E o jantar devia ter ficado por aqui! Pela qualidade e quantidade!
Com mais olhos do que barriga, de entrada constaram ainda uns cogumelos recheados. Feita a prova, não mereceram a transgressão. Cogumelos panados e fritos. Fritura exemplar, sem dúvida, mas o sabor não surpreendeu. Passo.
Numa das mesas ao lado, um jovem padre convence os pais a escolherem o foie gras com molho de frutos silvestres e, a avaliar pela gula, a terrine devia ser de bom fornecedor, sim senhor! Do outro lado, umas mangas arregaçadas e cotovelos em cima da mesa, com o corpo balanceado para a frente, dá conta de um pratinho de presunto. Sem protestos.
Por mim, debatia-me com a temperatura do vinho. Devia ter servido de aviso, que restaurante que não saiba servir o vinho à temperatura adequada não pode ter culinária coerente.
Para prato principal, escolho uma empada “de várias carnes” que se faz acompanhar, habitualmente, por batatas gratinadas, opção que, imagino eu, mereceria a censura de um qualquer nutricionista. Por isso, peço grelos salteados. Má alternativa, que em vez de “grelos com sabor do norte” se apresentaram uns verdes congelados, iguais aos que tenho na minha terceira gaveta, em Lisboa, reservados para as emergências-dos-dias-sem-tempo! Mamma mia! Ainda por cima de tempero insípido!!! A fatia de empada, passável. Soube sobreviver ao microondas. Já comi melhor e já comi pior.
À minha frente, para umas bochechas de vitela, gravo um olhar infeliz.
A desolação estampada é proporcional ao tamanho das ditas. Meto o garfo para o tira-teimas e faço a careta devida. Os entremeios de gordura e nervo, mais gordura gelatinada, revelam como não se trata carne de qualidade, seja em assadura a baixa temperatura (lá para 8 horas de forno, a 100º), seja confitada, com o vinho tinto e os legumes a dar ao estufado macieza e ao molho sustância. Uma arte que desta vez não foi seguida e que Pedro Nunes saberá de cor e salteado. Fico com pena.
Enjoada, só lamento que as romarias se façam pela quantidade e não pela qualidade. Neste restaurante de fama, verifico que quantidade não é problema, só não encontrei lá o proveito. Bons produtos ajudam, mas, sem arte e engenho, por si só, não fazem a boa cozinha.
Experiência infeliz, já nem me tento pela sobremesa. Um café, se faz favor, e…dois Maalox’s…

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