“O prazer da comida é o único que, desfrutado com moderação, não acaba por cansar”

Brillat-Savarin


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Gspot - Comer e beber com brilho



No paraíso da cozinha! Sou suspeita, é certo, que já aqui o confessei: elegi esta mesa como a minha cantina! E são muitas as vezes a roer as unhas para não cair na tentação de escrever sempre que me apetece sobre esta experiência de sentidos e sabores…
Mãos criativas e recreativas, arrojadas bastas vezes, aqui e ali, mesmo mágicas. À delicadeza das escolhas, junta-se a reflexão: o “bora lá” do André a puxar pelo culto do João; o cuidado e competência do Giscard que marca a ligação da sala e da cozinha e que se supera nas ausências do Manuel Moreira, um sábio de vinhos e harmonizações.
É um quarteto indispensável na minha rotina gastronómica. Simplicidade desarmante, na sala e na cozinha que, ainda assim, me surpreende a cada visita, num arriscado equilíbrio entre o arrojo e o “fica bem” do que se espera ser o gosto mais consensual dos clientes.
A minha última experiência, ali vivida, é bem o retrato dessa atitude inquieta e da disciplina que se impõe. Nos pratos e nos copos.
À minha mesa já não me chega o magnifico cesto de pães quentinhos para mergulhar no azeite ou barrar de manteiga de ervas. Nã, que a casa já sabe que a minha balança abre de imediato o livro de reclamações! Sniff!
O paladar logo despertou com um gaspacho.

Sabores bem vincados e misturados. Mais intenso o pimento e o alho. Apenas um fio de azeite a ligar no prato. A meu gosto, só faltou estar mais geladinho, que esta sopinha de verão pede temperatura bem fria. Bem medida a frescura do Alento branco, fácil de beber.
E não sobraram muitas gotas quando se trocou o copo por um Pimenta Preta 2009, um tinto tranquilo, projecto de vários enólogos, com Luís Duarte a cabeça de cartaz.
Mas o rei à mesa, é o atum corado “ com dashi português” – sublinha Giscard no seu sotaque brasileiro. O dashi é um caldo, feito com atum, que serve de base à sopa miso. Ora, nesta versão portuguesa, em vez do atum seco, o caldo foi feito com bacalhau e algas. Falta um sabor fumado ao caldo, dir-me-ia mais tarde o João Sá. - Sim, chefe! É Vexa quem o diz! Na prova, sinto ainda sementes de sésamo e a malagueta vermelha numa elaboração que acomoda também um escabeche de beringela. Exemplar.


Antecipando-se às minhas frequentes provocações para que harmonize peixe com tintos, Manuel Moreira prossegue com um Casa de Zagalos Reserva 2007 para o Salmonete com molho de fígados do dito, migas de morangos e poejos, a dialogar com folhas e coulis de agrião. O prato mais surpreendente da noite.

Oferta feita de contrastes: o suave e o intenso; o macio e o crocante, o quente e fresco, o doce e a acidez. A prova de como se pode recriar a cozinha tradicional rompendo estereótipos. Fica tão bem numa noite de verão, este contraste da frescura dos morangos a aliviar o calor das migas. A receber os elogios, Manuel Moreira invoca a imagem do Mon Chéri. Não está mal vista a comparação, não senhora!
Honesto, na busca da felicidade, o peito de pato assado com fricassé de cogumelos e espuma de batata. Irrepreensível. E bem acompanhado com um Herdade de São Miguel Reserva 2007.


No guião, final feliz,  preenchido com o sonho de um verão algarvio: shot de leite-creme com amêndoa amarga a fazer conjunto com um gaufre de figo, o figo, gelado de amêndoa , aguardente de figo, azeite e mel. Elegância nas diferentes texturas. Sabores delicados que se partilham bem com um Porto branco velho. O Messias Old, pois claro!


A ambição da cozinha não tem paralelo nos preços ajustados a facturas low cost.  27 Euros por pessoa, sem contar com os vinhos!!! O paraíso existe…


Restaurante Gspot
http://www.g-spot-gastronomia.com/
Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, nº12-A/B
2710-426 Sintra
Telefone:927 508 027

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