“O prazer da comida é o único que, desfrutado com moderação, não acaba por cansar”

Brillat-Savarin


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Willis – Que galo!...



É um dos meus restaurantes preferidos no Algarve, senão o preferido! Fora o Vila Joya, claro! Que esse, está noutra estratosfera…
E por ser um dos preferidos, é ali que “caio” logo nas minhas primeiras noites algarvias. Desta vez, por força do tempo e das circunstâncias, não foi a primeira, mas a segunda mesa onde me sentei a jantar.
O chef alemão Wilhelm Wurger chegou a Portugal no início da década de 80; ainda assim, mostra-se pouco à vontade na língua portuguesa. Discreto, a raiar a timidez, não deixa de ir à mesa dos clientes habituais. A condizer com a imagem desde chefe é também o restaurante, nas traseiras do Hilton de Vilamoura. Para lá chegar, o melhor mesmo é seguir as placas do hotel.
Sem as garantias, ainda, de S. Pedro, o serviço a jogar pelo seguro e a optar pelo jantar na sala interior. Ainda assim, ali chegados e porque a noite se mostrava mais cálida do que se previa, insistimos na esplanada. Seja feita a nossa vontade. Foi na esplanada que se preparou mesa para quatro. Opção a obrigar a um compasso de espera na exígua mesa que serve de bar. Champanhe de aperitivo e os primeiros de vários equívocos da noite: champanhe ou espumante? nada nos foi dito sobre o que estava a ser servido. Em copo de vinho branco e não em flute!!!…
Entre amigos que entravam, outros que saíam, não dei pelo tempo, mas senti o stress do serviço. Seja. Conseguimos a ambicionada mesa ao ar livre, iluminados por um lindíssimo quarto crescente. Já a carta – a mesma do verão passado! – tinha sido consultada e as opções transmitidas: três tártaros de salmão e eu, a destoar, com uma salada de camarões para começo.
Um toque de caril no molho da salada, que se revela, pelo tamanho, quase um prato principal. Menos satisfeitos os meus companheiros de mesa a queixarem-se da falta de tempero e de untuosidade no tártaro de salmão.
A seguir, dois risotos de trufas, uns medalhões de tamboril e filetes de peixe-galo para mim. Mais uma vez, saí a ganhar. E que peixe galo!!! A frescura, a textura, o ponto de cocção…por muitos anos, vou reter na memória este “pexinho” a revelar boa matéria-prima e excelente técnica, mergulhado num suave molho de champanhe.
Menos feliz a opção do risoto de trufas com vieiras. Aí, falhou a mão, sal a mais e tempo de fogão muito para lá do que era pedido. O resultado apresentou-se desastroso,com o arroz a revelar-se salgado e espapaçado.
Os medalhões de tamboril? Bem! - Dizem-me uns olhos invejosos a salivarem pelo meu peixe galo.
Já sem estômagos para a sobremesa, ainda assim houve coragem para dividir umas cerejas com gelado de baunilha. O clássico cherry jubilee, a perder na comparação com a receita cá de casa, digo-o eu, sem falsas modéstias, já que nem sou a autora das experiências caseiras.
Numa noite menos feliz, ainda assim a reconhecer os créditos da cozinha de Willis. Pena o serviço de sala não acompanhar a competência da cozinha nem condizer com um restaurante que detém uma estrela no famoso Guia Michelin.
Um chefe de sala, mesmo quando está mais à vontade com clientes “habitués”, não pode desleixar-se nas tarefas, nem revelar aquela atitude irritante de quem não sabe bem onde deveria estar naquele instante, a evidenciar um nervosismo permanente: ao mesmo tempo que regista o pedido, poisa o olhar, não na mesa, mas noutras e em todas ao mesmo tempo. Gesto gratuito que não se traduz em eficácia. Serviço descoordenado, a revelar-se lento e, por vezes, desatento. Pecado mortal: não se deu o vinho à prova, nem na primeira, nem na abertura da segunda garrafa!
Uma estrela que esmoreceu. Espero que tenha sido só desta vez!

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