“O prazer da comida é o único que, desfrutado com moderação, não acaba por cansar”

Brillat-Savarin


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pedro e o Lobo – Mais Lobo que Pedro


Abriu em Agosto rodeado de uma forte operação de marketing.  E quatro dias depois de abrir já se podia ler na net que o restaurante estava muito in!!! Estranho, mas ficou logo na minha agenda para o meu regresso de férias já que me coloco, sempre, na fila da frente para incentivar novos projectos.

Decoração  “trendy”, simples mas elegante, descontraída, assente na madeira e candeeiros.  A antecâmara dominada pelo balcão, com vista imediata para a sala, onde as mesas se encavalitam. Em fila, duas a duas ou redondas, dando pouco espaço a que os empregados circulem e obrigando até a que se debrucem sobre as mesas para chegarem a alguns dos lugares (!!!).

A musica de fundo alta, demasiado alta, a fazer adivinhar uma noite ruidosa, com as conversas a sobreporem-se entre mesas vizinhas, a resvalar para um ambiente ao estilo de marisqueira popular mas que, reconheço, pode agradar aos mais jovens.

E o serviço segue o tom e ritmo ao mostrar-se friamente despachado. Impessoal.  Mal se senta e o cliente pode contar de imediato com o pão. Despejado, sem licença. Biológico, segundo leio depois na carta. Seco, digo eu, que as transparentes fatias tinham já sido cortadas há várias horas. Uma pequenissima noz de manteiga por pessoa, completa o couvert (3€).

Menu de degustação de seis pratos, a 36 euros, mostra-se como  opção tentadora. Serve de portofólio aos dois jovens cozinheiros, Diogo Noronha e Nuno Bergonse.

O primeiro prato é deixado na mesa ainda nem sequer estava aberta a garrafa do vinho pedido. Foie gras com pêra William e Castanha do Pará, apresentado como aperitivo.  Um bombom de foiegras encoberto pela castanha ralada. O sabor da castanha a sobrepor-se, a pêra, se lá estava, não se deu por ela.

A desfilar a seguir, um queijo de cabra com gelatina de beterraba, figos caramelizados e presunto. Uma combinação que vale pela matéria prima e, neste caso, o queijo em fatia, a mostrar-se incompetente para o conjunto. Muito intenso, com uma acidez a não permitir valorizar a gelatina de beterraba. Uma outra marca de queijo e pode ser que se salve uma ideia engraçada.

Valeu, a seguir, a salada de quinoa e abacate, empratada em cilindro com um crocante de tinta de choco e lulinhas baby. Um conjunto harmonioso e fresco com a lulinha no ponto.



Para prato de peixe apresentou-se um robalo do mar, mergulhado num caldo de feijão branco estufado em aneto, ostra de Setubal, salicórnia e espuma de miso. Era essa a descrição, mas se estava anunciada, não havia rasto de nenhuma ostra em nenhum dos pratos que vieram para a mesa. Ainda pedi a um dos empregado para conferir a descrição. Foi-me confirmada a existência da dita, com um dedo apontado para o meio do meu prato, a confundir a ostra fantasma com uma pelezinha do robalo. Nã! Não a consegui descobrir e juro pelo deus neptuno que a procurei, minuciosamente, para a despachar a toda a velocidade para o prato do lado. Ganhei eu que não gosto de ostras. Perderam os meus companheiros de mesa, também eles em pesca inglória.

Do mar para o talhinho, surge em tábua de ardósia, um naco de rabo de boi com chips de batata doce e, o anunciado puré de topinambur,  substituido, sem aviso prévio, por um puré de batata doce com baunilha. A carne em textura correcta, as chips a servirem de elemento crocante mas a mostrarem-se tristes. Parece simples, mas a batata frita pode ser a morte do artista e estas não convenceram.  O puré também não, que o sabor da baunilha acabou por dominar o prato.  Se se tivesse usado a vagem em vez da essência de baunilha, talvez o resultado fosse diferente.  



A sobremesa a conseguir ter papel reconciliador. Glaze de chocolate com gelado de cardamomo. O chocolate preto, amargo, a ombrear com o sabor intenso do cardamomo.

Sem oferta de vinho a copo para permitir uma harmonização com os diferentes pratos, restou-nos escolher uma única garrafa para a dificil tarefa de acompanhar todo o menu. A responsabilidade recaiu num Vila Santa Syrah (22 euros), um tinto equilibrado, com boa acidez e frescura servido à temperatura correcta.  Carta de vinhos com oferta variada a preços cristãos.

Sem deslumbrar, no final da noite, um dos companheiros de mesa, não resistia ao trocadilho que serve de título a estas notas. O certo é que o restaurante estava cheio. Mais vale cair em graça que ser engraçado.

Não sei se paladores mais exigentes voltam, mas pode ser que a batuta para este projecto ganhe mão firme. Vou ficar de olho à barriga do lobo...

Pedro e o Lobo
Rua do Salitre, nº 169
Tel. 211 933 719
Encerra aos domingos e Sábados à hora do almoço

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