“O prazer da comida é o único que, desfrutado com moderação, não acaba por cansar”

Brillat-Savarin


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Que bem que se come! O vinho é que não...



Está na lista dos restaurantes afamados do Algarve. Numa história feita de altos e baixos, não atingiu o sempre ambicionado estrelato Michelin. Mas tem preços de estrela. Talvez por estar localizado no sítio mais exclusivo do Algarve ou porque se habituou a uma clientela que não liga à parcela da direita. Preços de estrela e cozinha de estrela, há que reconhecer.
Foi a minha primeira paragem na chegada ao Algarve. S. Pedro a trocar as voltas e o verão a fazer-se inverno. Dia de chuva, quase torrencial. A trovoada a abrir a torneira do céu. A praia com que se sonha o ano inteiro adiada. A noite que chegou fria. Sobrou a dúvida: onde reservar mesa de agasalho?
Sem hesitações, ao lembrar-me do acolhedor pátio interior, a primeira escolha a recair de imediato nesta Casa Velha. Seria um bom compromisso. O pátio é lindo, aconchegante. As buganvílias emprestam-lhe o desejado ambiente de verão. Mas, talvez mais por medo da chuva do que do frio, o restaurante a optar por servir os jantares na sala interior. Acolhedora, é certo, mas nada do que se queria para uma noite de verão. Passada a primeira decepção, reconcilio-me com o ambiente. Requintado. Bonito. Sala cheia…de estrangeiros! Tirando a minha, só bem mais tarde, nos pergaminhos das horas lusas, uma outra mesa foi ocupada por três tradicionais casais da Quinta do Lago. Sinal da crise?
Um tabuleiro de aperitivos vários serve de entretém: uns folhados com sementes de sésamo, um paté de azeitonas caseiro sem aquele travo salgado de que os industriais não se conseguem livrar. Saboroso. Espetadinhas de tâmara com presunto; alcachofras com salmão e ainda umas azeitonas, mignon, muito bem temperadinhas.
De amuse bouche, um shot de gaspacho de cenoura fria onde surgiram também, vincados, o gengibre e os coentros. Boa companhia para um blini de salmão.
Sem muito apetite, opto por duas entradas. Uma salada mista com camarões salteados, molho de tomate e menta. A servir de prato principal, uma terrine de foie gras. Light!
A entrada da salada com os camarões vale pela matéria prima, mas vale, sobretudo, pela apresentação. Vistosa. Prova provada de que a cozinha faz despertar todos os sentidos: o palato, claro! Mas também o cheiro e o ouvido. Sim, é verdade. É preciso “ouvir” o que cada prato nos quer dizer. Às vezes, literalmente. Como, o exemplo de um salmonete que me foi servido no Guy Savoy, que chegou à mesa com a recriação do som das ondas do mar. E há os olhos. “Também comem” – diz a sabedoria popular. Sem dúvida, acrescento eu, frente a uma simples salada transformada em arte.



De um lado os camarões, repenicados, no ponto certo.


Do outro lado, um festival de cor. A mistura de saladas enformada num estaladiço de pão rústico, onde surgia, como coroa, uma flor de queijo. A manga, os mirtilos e demais fruta a darem sabor, mas sobretudo, a emprestarem um efeito visual apetecível.


E enquanto me bato com os meus singelos camarões, ao meu lado, veio a Sapateira Real e “Pimientos del Piquillos de Lodosa”, com cereal Quinoa, laranja e Balsamico.


Mais uma vez, lindo o efeito visual. Mas, não só. A ligação do miolo da sapateira com a maionese, dizem-me, é suave e perfeita. Os pimentos, impecáveis, a espevitar.
A sala continuava animada. O serviço discreto, mas sempre atento e eficiente. Entra em cena o Foie gras de Pato do « Sud Ouest », cozido com pão de Especiarias, compota de figos do Algarve e Xarope de Porto. Boa terrina de foie gras. Muito boa. E eu que me predispunha a deixar metade, acabei por me entreter e saborear até à última migalha!

Para o prato do lado, voou um Pombo de Anjou e Foie gras salteado, servido com legumes. Suco de Pedro Ximenes e especiarias. Carne impressionantemente no ponto, a untuosidade do foie gras salteado e a redução do licoroso a realçarem a qualidade da ave.




Boa carta de vinhos, sobretudo portugueses e franceses, só que intoleravelmente caros! Um João Pires acima dos 30 euros era dos poucos mais baratos. No mais, upa-upa, puchadote!!! Faço votos para que a Casa Velha reveja esta vergonhosa política de vinhos. A qualidade da comida e do serviço bem o merecem.

Restaurante Casa Velha
Almancil - Quinta do Lago
Rotunda n º 6 à direita
Tel.  289394983

http://www.restaurante-casavelha.com/pt/index.htm

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