“O prazer da comida é o único que, desfrutado com moderação, não acaba por cansar”

Brillat-Savarin


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Travessa – Cozinha de ouro em serviço de prata


Classico. Familiar, mas cosmopolita. Um espaço grande, mas acolhedor onde, no Verão, há ainda a acrescentar a esplanada nos claustros do Convento das Bernardas.

Logo à entrada, o imponente forno a lenha empresta a ideia de se estar a chegar a uma casa de familia. A sala, pontuada com mesas de jantar familiares, os espelhos e  os castiçais, prolonga essa imagem. Simplicidade requintada.

Um restaurante onde se volta sempre e que, já se sabe, é sinónimo de comer bem. E há muitos anos que é assim.

A dificuldade de estacionamento é resolvida com o “pão de forma”.  Pode  deixar-se  o carro no parque de estacionamento do Largo de Santos, telefonar para o restaurante, indicar a reserva e poucos minutos depois temos disponível uma velhinha carrinha Citroën de colecção, bicolor, branca e vermelha, daquelas que marcou a geração “love and peace”,  e que nos leva para a Rua das Trinas.

A afabilidade e simpatia com que somos  brindados à chegada são naturais, sem aqueles gestos e palavras postiças que se aprendem na escola de hotelaria tão em moda na restauração de hoje.

Antes de nos darem acesso à carta, somos presenteados com vários petiscos. O cortejo começou com uns apetitosos ovos mexidos com espargos selvagens, molhadinhos, a mostrarem logo ali que há boa mão na cozinha. Os ovos em bocados grandes, o sabor dos espargos lá, mas a verem-se pouco. Uns pimentos de Padròn que só pecam por virem contados: um(!!!) por pessoa. Crocante de queijo de cabra panado com doce de abóbora. O polme perfeito. A beneficiar na ligação com a compota. Tostinhas com pasta de azeitonas e uns vulgares camarões pequenos, somente o miolo, que não se fizeram convidados. E o pão, senhores, o pão!!! Fatias de pão alentejano, guloso, irresistivel!!! Para embeber em azeite.

Há ainda os secretos de porco preto. Apresentam-se à mesa em peça inteira, de onde saiem finas fatias cortadas à nossa frente. Deliciosas fatias. Na lista dos mimos, contou-se também com ostras, de origem não revelada. Passei, que não sou amiga de ostras, mas quem na mesa provou, aprovou.

Nesta altura, já as opções para o jantar tinham sido apresentadas e as decisões tomadas. Mas, talvez para aconchegar estomagos mais famintos, ou fazer juz à velha tradição gastronómica portuguesa, ainda veio a sopa. Uma taça de creme de ervilhas. O creme concentrado num aveludado sem reparos, pontuado por uma mancha de natas.

Virada para o peixe, desprezei o Foie Gras de Pato ou o Lombo de Vitela com Échalottes ou, ainda, o Medalhão de Veado, além dos vários bifes do lombo.

Entre o polvo, a corvina para grelhar e os filetes de peixe galo com molho de champanhe, optei pelo “Saint-Pierre”. Um peixe feíssimo, mas que fornece a carne mais adequada para filetes. Que, não desiludiram. Bom polme e o molho de champanhe a dar um toque agridoce. Correcto. Não deslumbra mas conforta e deixa o palato feliz.

Para acompanhamentos, a oferta é extensa e já um clássico nesta Travessa: legumes, puré de nabo, esparregado de nabiça ou espinafres, batata chip caseira. São os acompanhamentos tradicionais. Vêm todos de uma assentada para a mesa, permitindo assim conjugar as opções com os gostos e com o prato escolhido.

De uma extensa e aprumada carta de vinhos, fomos para o Dão. O Quinta de Carvalhais Encruzado, um branco intenso, mas macio, elegante, a combinar bem com o espaço e a comida.

Dos doces não posso falar porque, mais uma vez, não consegui chegar à sobremesa, por culpa das delicadezas de entrada.

Não é barato, mas é bom. Uma cozinha consistente. Confortável. Não engana.

50/60€ por pessoa
A Travessa
Travessa do Convento das Bernardas, 12

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